"com este poema não tomarás o poder" diz
"com estes versos não farás a Revolução" diz
"nem com milhares de versos farás a Revolução" diz
e mais: esses versos não haverão de servir-lhe para
que peões, professores, fazendeiros vivam melhor
comam melhor ou ele mesmo coma, viva melhor
nem para enamorar alguém lhe servirão
não ganhará dinheiro com eles
não entrará ao cinema grátis com eles
não lhe darão roupa por eles
não conseguirá tabaco ou vinho por eles
nem papagaios, nem cachecóis, nem barcos
nem touros, nem guarda-chuvas conseguirá por eles
se por eles fora a chuva o molhará
não alcançará perdão ou agradecimentos por eles
"com este poema não tomarás o poder" diz
"com estes versos não farás a Revolução" diz
"nem com milhares de versos farás a Revolução" diz
senta-se à mesa e escreve
Juan Gelman

Gelman é o poeta argentino mais premiado de sua geração, 60 e 70, entre os quais estão o Prêmio Nacional de Poesia Argentina, Literatura Latina Americana e do Caribe Juan Rulfo; o Ibérico Americano de Poesia Pablo Neruda e o Rainha Sofía de Poesia Ibérico Americana.
Entre as obras se destacam Violín y otras cuestiones (1956), El juego en el que andamos (1959), Velorio del solo (1961) , Gotán (1962), Cólera Buey (1965), Los poemas de Sidney West (1969) Fábulas (1971), Carta Abierta (1980), Bajo la lluvia ajena (1980), Hacia el Sur (1982), Composiciones (1983-1984), e Eso (1983-1984), entre outros.
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